Tradução Ana Calazans
Clique para ver o original em inglês
Muitos pensam que religião é pertencer a um grupo que compartilha um sistema de crenças. Na realidade, cada indivíduo tem sua própria religião.
Religião é a paz de espírito experimentada quando você é verdadeiramente você. Ela estrutura a sua vida diária, mas não pode ser explicada ou mostrada a ninguém. Eu acho que a religião é essa estabilidade escondida no fundo de si próprio. Diferente para todos, é o que permite a alguém se manter no caminho sem a ajuda de ninguém.
É óbvio que se a religião é a nossa própria essência, as disputas entre os diferentes ramos do Zen parecem totalmente insignificantes. Da mesma forma, é inútil tentar imitar Shakyamuni ou qualquer outro mestre. Em outros tempos, haviam outros caminhos. O essencial é que todos possam aproveitar a sua própria paz de espírito, aqui e agora.
As vidas dos antigos mostra que todos tinham o poder de maka hannya[1]. O grande patriarca Kanadaiba, por exemplo, não fazia conferências, ou até mesmo comentários sobre os textos; ele aprofundou sua sabedoria vivendo-a cada dia.
Agarrar o Eu, o que há de melhor em nós, nosso verdadeiro ego – não importa como você o chame. É absolutamente necessário apoderar-se disso, para que ele seja a natureza de Buda.
A menina vai encontrar felicidade em seu estado de menina; e, como mulher, em seu estado de mulher; depois como uma avó e, finalmente, na morte.
Muitas vezes a menina tem pressa em se tornar mulher; e quando ela é uma mulher, ela quer ser mãe. A pequena serva odeia cozinhar e imediatamente quer ser patroa; mas como patroa ela se depara com um trabalho muito estressante. Eu desejo que todos possam apreciar plenamente a sua vida.
Um dia recebi um postal de um policial que me disse que estava tentando viver plenamente a sua vida como um inspetor de polícia. Quando li isso, eu tive que rir. É exatamente isso! Ele entendeu perfeitamente o meu ensinamento. Tornar-se Buda é tornar-se você mesmo de forma completa. Quando não se é fiel a si mesmo a vida é um inferno.
Tornar-se Buda é tornar-se você mesmo de forma completa. Quando não se é fiel a si mesmo a vida é um inferno
Suponha que um chacal tente imitar o rugido do leão, ele pode abrir sua boca e uivar tanto quanto ele queria. Sendo quem é, sua voz não vai ser projetada.
O Sutra do Nirvana diz: “Um chacal imitando o rugido do leão vai levar 100 anos, 1000 anos antes de encontrar sua própria voz. Enquanto que o pequeno filhote de leão de três anos ruge como seus pais”.
A lei do Buda ensina como se tornar um leão, ou seja: como viver autenticamente a sua verdadeira natureza. Graças a isso podemos levar uma vida que vale a dor de ser vivida.
A lei do Buda ensina como se tornar um leão, ou seja: como viver autenticamente a sua verdadeira natureza. Graças a isso podemos levar uma vida que vale a dor de ser vivida.
Se rugindo ou miando, não importa: se é a sua verdadeira natureza, é uma vida que trabalha para o bem de todos.
O Buda come, mas por que é que ele come? Ele come para trabalhar para o bem de todos os seres. Ele acorda no início da manhã pelos outros. Ele dorme à noite pelos outros. Rindo ou chorando, tudo que ele faz é para salvar toda a humanidade.
Kodo Sawaki – Trecho de ensinamento contido em The Notebook of Kodo Sawaki
____________________________
[1] “Sabedoria completa” ou “grande sabedoria” em sânscrito.
Republicou isso em Ordem no ruído.
CurtirCurtir